A Microfísica do Poder
O movimento digital globalizado vem esvaziado a autonomia local,
porque ordena a sociedade de cima para baixo, ao contrário de uma
organização orgânica e mais próxima da natureza que se desenvolve de baixo para
cima.
Ao mundo digital só interessa a prosperidade e a satisfação
individual; a manutenção da multiplicidade cultural não lhes interessa.
Se observarmos o desenvolvimento da sociedade e da História
verificamos uma constante mudança, uma mudança sustentada pela ilusão da
mudança provocada pelos detentores do poder, que reduzem a mudança à mera
adaptação às circunstâncias e às necessidades do tempo.
Qual a transição do homo faber, que vivia do suor de seu rosto,
para o homo digital?
Um é real e o outro virtual. O virtual, no entanto se sente
liberto da responsabilidade moral, se deixa subjugar de dívidas pressionadas por
juros do cartão de crédito e espionado “microfísica do poder virtual”.
Paradoxalmente é nesta contradição que o homem contemporâneo encontra
a possibilidade de manipular sua identidade contemporânea: multiplica-se para se
sentir no mundo.
A transmissão e circulação de dados possibilitam a criação
de múltiplas “identidades”, acima da realidade, já não é natureza, e pode
contradizer a liberdade e a dignidade individual favorecendo um “super poder”.
A ferramenta digita, com maior poder e de forma muito mais
radical, pode determinar o futuro sem permitir que os indivíduos pensem
sobre o sistema todo, sem que pense sobre suas virtudes e defeitos. Consequentemente,
sem debate, e com muita quinquilharia, deixa prevalecer interesses:
poder e dinheiro. Ficando
de fora os verdadeiros problemas da natureza (ecologia) e da humanidade
O homem contemporâneo, por não se criar a si mesmo, contrai
dívidas para viver um presente de “alegria”. Porem, esquece que todo sistema de poder, gosta de
confiança cega, como a religião, onde a
luz vem das palavras e das moedas cunhadas com a cara de César.
Toda linguagem tem sua gramática, e a gramática do poder é impor sua
narrativa em diferentes contextos. O mundo digital vem favorecendo a criação e
manutenção de um universo de déspotas, que não aceitam correções e não se
importam com a sociedade e as pessoas.
Marília Gruenwaldt
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